segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Navio do século 19 que naufragou no Rio Itajaí-Açu transportava carga frigorificada entre Buenos Aires e Rio de Janeiro

 Imagem Ilustrativa/Naufrágio paquete inglês Slavonia na Ilha das Flores (Açores) em 1909      

         O objeto submerso encontrado nas obras da Bacia de Evolução do Rio Itajaí-Açu trouxe a tona uma parte da história do Brasil que andava esquecida. O objeto pode ser do paquete (navio) frigorifico Pallas, naufragado depois de bater em uma pedra no Rio Itajaí-Açu, em novembro de 1893. O navio foi utilizado pela Marinha durante a Revolta da Armada.
 
Pouco se sabe do paquete Pallas, que pertencia a Companhia Frigorifica e Pastoril Brasileira. As poucas informações a respeito da sua história foram publicadas nos jornais da época.
            O paquete foi construído entre 1891 e 1892 com a finalidade de transportar cargas e também passageiros entre Buenos Aires e Rio de Janeiro. O navio era o menor das seis embarcações da Companhia Frigorifica e considerado o mais moderno da frota. Tinha capacidade para transportar até 500 toneladas de carga frigorificada. No dia 21 de dezembro de 1892, o Jornal Gazeta de Notícias (RJ) publicou uma matéria sobre o navio.
“O paquete Pallas, um dos seis que a companhia possui, é o menor em tamanho, de elegante e sólida construção. Com capacidade para transportar número superior a mil rezes mortas, bois, carneiros, porcos, aves e frutas; além de outro gênero de carga e passageiro”. 
O mesmo jornal destacava a sua construção, que poderia navegar até por rios de baixo calado.  
“A sua construção e tal, que seu calado presta-se a entrada na barra do Rio Grande e navegação nos rios e lagoas do mesmo Estado até Porto Alegre”.
Na mesma matéria, o periódico carioca traz detalhes da câmara frigorifica do paquete e também que a embarcação possuía luz elétrica, um avanço para época.
“Examinamos sua câmara frigorifica e verificamos ser a temperatura na ocasião de oito graus abaixo de zero. Essa temperatura pode ser mais baixa ou elevada, conforme as exigências de ocasião ou de gênero que o paquete transporta. Os mecanismos para produção do frio, do vapor necessário para a marcha do paquete e para produção de luz elétrica são os mais aperfeiçoados e seguros”.
Almoço para mais de 100 convidados
Menos de um ano antes de ir parar no fundo Rio Itajaí-Açu, o Pallas recebeu convidados ilustres para um almoço. O evento serviu para apresentar a nova embarcação da Companhia Frigorifica e Pastoril Brasileira. Entre os convidados estavam oficiais da Marinha, cônsules da Argentina, Uruguai e jornalistas. Entre os jornais que visitara o Pallas, estava à equipe do Jornal do Brasil. A edição do dia 21 de dezembro de 1892 trouxe uma matéria sobre o evento.
Matéria publicada no Jornal do Brasil de 21 de dezembro de 1892

“Convidados pela diretoria da Companhia Frigorifica e Pastoril Brasileira assistimos ontem a bela festa que se realizou a bordo do paquete Pallas, festa que se prolongou-se até às 16h30. Às 10 horas da manhã, partiu do cais Pharoux a barca especial da companhia Ferry, levando os convidados a bordo do Pallas, ancorado perto da Ilha das Enxadas (Baía de Guanabara). Muito mais de 100 pessoas estiveram presentes”.
O almoço tinha no cardápio carnes congeladas no paquete, vinho e champanhe. O que chama atenção mesmo no almoço é a presença do ministro da marinha, Custódio de Melo, que foi um dos líderes da Revolta da Armada (movimento encabeçado pela Marinha contra o governo do presidente Floriano Peixoto). Custódio de Melo vistoriou no dia o paquete, que seria usado pelos revoltosos na tomada de Desterro (Florianópolis).
O naufrágio
Se a festa no paquete Pallas teve destaque em muitos jornais da época, o mesmo não pode dizer da notícia do seu naufrágio.  Apenas o jornal “O Paiz” publicou no dia 23 de novembro uma nota, que outro jornal, o diário argentino “La Nacion  publicou no dia 11 de novembro.  Tudo indica que o naufrágio foi acidental.
Nota de "O Paiz" informou o naufrágio do Pallas em 1893

“Está plenamente confirmada à notícia do naufrágio do paquete frigorifico Pallas. O importante diário buonarense, La Nacion, na sua edição do 11 de novembro, publica a esse respeito o seguinte despacho telegráfico: “O paquete Pallas, da esquadra sublevada, intentando, há poucos dias, entrar à noite na barra do porto de Itajahy, bateu de encontro a uma pedra e naufragou”.
No naufrágio, a tripulação do Pallas conseguiu se salvar. O local onde o navio afundou, no bairro São Pedro, em Navegantes, é conhecido como palas até hoje. Agora resta saber, se os objetos localizados na obra de dragagem na área da nova bacia de evolução dos portos de Itajaí e Navegantes são do Pallas.
Revolta da Armada
Revolta da Armada na Baia da Guanabara em 1893
         Depois que o Marechal Deodoro da Fonseca renunciou a presidência da República, coube ao seu vice Floriano Peixoto, assumir o comando do país. Floriano, que viria a ser conhecido como “Marechal de Ferro” e o consolidador da República, fechou o Congresso Nacional e decretou estado de sítio. Oficias da Marinha não concordaram com a medida e pediram que Floriano obedecesse à constituição de 1891 e convocasse eleições diretas.
A Revolta da Armada começou no dia 6 de setembro de 1893, na baia de Guanabara, liderada por oficiais superiores da armada Saldanha da Gama e Custódio de Melo, que ambicionava substituir Floriano Peixoto.
Ainda em setembro de 1893, os revoltosos apoderaram-se de 18 navios mercantes e rebocadores, entre eles o Pallas.
Soldados no Morro da Armação, Rio de Janeiro, em 1894
O objetivo dos revoltosos era tomar o Porto de Santos, mas à resistência dos santistas fez que o alvo fosse a Ilha de Santa Catarina. Os rebeldes desembarcam em Desterro no dia 2 de outubro de 1893, onde tentaram se aliar com os revoltosos gaúchos partidários do federalismo, porém sem sucesso.
Custódio de Mello, comandando quatro navios mercantes e dois mil homens, tentou, sem sucesso, desembarcar na cidade do Rio Grande. Foi derrotado pelas tropas do governo de Julio de Castilhos. Os revolucionários da Armada estavam vencidos. Custódio refugiou-se na Argentina, onde entregou os navios (fonte: http://brasilianafotografica.bn.br).

Custódio de Melo foi um dos líderes da Revolta da Armada e chegou a visitar o paquete Pallas
Já Saldanha da Gama morreu em combate no 25 de junho de 1895, em Campo Osório (RS).

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