Livro aborda história de ericeirense que virou senador no Brasil |
No livro “Tia Maria Ásquinha e outras histórias da Ericeira”, o jornalista e escritor Jaime d’Oliveira Lobo e Silva, conhecido como mestre Jaime, conta a história da tia Carapêta e de seus dois filhos. Um deles, segundo Mestre Jaime, viajou para o Brasil, entrou para a Marinha e foi eleito senador do Império.
“O mais velho, pouco depois da morte do pai, embarcou para o Brasil, assentou praça na Armada Brasileira, foi subindo postos, chegou ao de Capitão-de-Mar-e-Guerra, e até foi mais tarde Senador do Império (p. 39)”.
A história que mestre Jaime retrata no livro foi tirada das ruas, contada pelos ericeirenses entre o fim do século XIX e começo do XX. No conto, até mesmo o nome do ericeirense que virou senador no Brasil não é conhecido.
“Não se sabe o nome deste homem, mas diziam muitos marítimos ericeirenses que o conheceram no Brasil, e alguns oficiais da marinha mercante que por vezes o visitavam na sua luxuosa chácara que possuía numa das ilhas de Guanabara, que levava vida de grande senhor, servido por numerosos escravos e onde recebia principescamente os patrícios (p.39)”.
Apesar da história contada na Ericeira, ela pode ter acontecido de fato, não exatamente relatado no livro. A história do senador natural da Ericeira se confunde com a vida do senador catarinense José da Silva Mafra, que conhecia a vila portuguesa.
José da Silva Mafra foi senador do Império do Brasil de 1844 a 1871 |
José da Silva Mafra nasceu na Vila de Desterro (hoje Florianópolis) no dia 14 de janeiro de 1788. O pai do catarinense, homônimo do senador, nasceu em Mafra por volta de 1740.
Quando veio para o Sul do Brasil, o pai do senador mudou de sobrenome. Em Portugal, os Silva Mafra se chamavam Delgado. No entanto, nenhuma família Delgado foi encontrada nos registros paroquiais de Mafra na época e sim na Ericeira.
Então a possibilidade do pai do senador catarinense ter nascido na Ericeira é grande. Além disso, um registro na Paróquia da Ericeira chama atenção. É de um nascimento de um José, filho de Antônio da Silva Mafra. O nascimento dele é quase na mesma época do senador no Brasil e coloca em dúvida se José da Silva Mafra nasceu mesmo no Brasil.
Outros registros da família do senador sumiram da Paróquia de Desterro depois da invasão espanhola na Ilha de Santa Catarina em 1777. Uma das hipóteses levantadas é que um padre levou todos os registros da igreja de Santo Antônio de Lisboa, local do suposto nascimento do senador catarinense.
José da Silva Mafra seguiu a carreira militar do pai, que era capitão e comandava a 4ª Companhia do Terço de Infantaria Auxiliar da Capitania da Ilha de Santa Catarina.
Começou como soldado na Companhia de Granadeiros do Terceiro Regimento de Linha. Participou das campanhas de 1798 no Rio Grande do Sul, de onde seguiu para o Pará, ainda no mesmo ano. Foi granadeiro e cabo de esquadra.
Silva Mafra tomou parte na conquista da Guiana Francesa, regressando em 1811 como tenente. Foi ainda sargento-mor e comandante da fortaleza de Santa Cruz (SC).
Tenente-coronel em 1823, foi reformado no posto, em 1830. O catarinense foi secretário, vice-presidente da Província de Santa Catarina, além de deputado. Em 1844, foi escolhido senador vitalício do Império do Brasil.
O senador se mudou para a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império e ficou lá até a sua morte em 3 de julho de 1871. Mafra, igual ao filho da Tia Carapêta, tinha propriedades no Rio de Janeiro e possuía muitos escravos.
É provável que tenha recebido muitos ericeirenses em sua propriedade. Os jornais publicados no tempo que foi senador noticiaram a entrada de muitos marinheiros da Ericeira no Porto do Rio de Janeiro.
Entre os oficiais da marinha mercante que pode ter visitado o senador está Francisco da Silva Ericeira, filho de Justino José da Silva, uma dos fundadores da Nova Ericeira.
Mestre Jaime contribuiu para preservação da história da Ericeira |
Lobo e Silva foi responsável por organizar o Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira e graças a ele muitas histórias permanecem vivas até hoje.
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