terça-feira, 30 de agosto de 2011

As rendeiras de Peniche


Escola de Rendas de Peniche é uma das mais antigas de Portugal

      Na sala o silêncio é total e a atenção sempre voltada à almofada. As mãos ágeis e experientes conduzem agulhas feitas de madeira em movimentos circulares. De um simples novelo de linha surge então uma obra arte: a renda bilro. Na cidade de Peniche, em Portugal, esse mesmo trabalho é feito há mais de 350 anos com maestria.

      Peniche fica numa península com cerca de dez quilômetros. A cidade portuguesa está localizada a 100 quilômetros a Noroeste de Lisboa. Com população estimada em 30 mil habitantes, Peniche é considerado o maior porto pesqueiro de Portugal e conhecido também pelas belas praias e a reserva natural das Berlengas.

Rendeiras de bilro mantém arte há mais de 350 anos

      A cidade também é conhecida em Portugal pelas famosas rendas de bilros. Segundo historiadores, já no século XVII os bilros saracoteavam nas almofadas cilíndricas das mulheres penichenses a dar vida às formas mais ou menos ingênuas dos desenhos traçados sobre os piques cor de açafrão. Um testemunho datado de 1625, sobre a doação de uma renda comprova a origem e fama das rendeiras de Peniche.

      Antes de ser considerada uma arte, a renda de bilro era um trabalho necessário. A atividade exercida pelas mulheres de pescadores ajudava e muito no sustento de suas famílias. Na época em que os homens não podiam sair para o mar devido ao mau tempo, era a venda das rendas feitas pelas mulheres que traziam um alivio no orçamento de casa.
 
Por muitos anos as mulheres de Peniche dependiam da venda da renda de bilro

      De Peniche, a renda ganhou o mundo e chegou ao Brasil, principalmente no Litoral de Santa Catarina, onde se utiliza uma técnica muito semelhante aos utilizados pelas rendeiras de Peniche. Na cidade portuguesa é notória a relação da renda praticada no Brasil com a de Peniche e também de outra cidade portuguesa, Nazaré.
 
Fortaleza de Peniche, onde funciona o museu municipal

     Em meados do século XIX existiam em Peniche quase mil rendeiras. Com a industrialização, as rendas de bilros de Peniche foram sofrendo uma regressão, que atingiu o seu ponto mais drástico com a extinção da disciplina facultativa da sua aprendizagem no ensino secundário. A arte encontra-se atualmente salvaguardada graças a Escola de Rendas de Peniche. Hoje, 500 penicheiras se dedicam à sua confecção.

 
      Entre elas está à senhora Maria Ambrósio, 70 anos, começou a fazer rendas ainda criança.
 
- Enquanto meus irmãos trabalhavam nas empresas de pesca eu com 11 anos, já fazia as rendas parar vender. Não dava tempo nem de ir à escola. Depois casei e fui trabalhar nas redes de malhar, utilizada na pesca – contou a senhora.
 
      Já rendeira Adelina Conceição Gonçalves, 76 anos, começou ainda mais cedo que a colega Maria.
 
- Aprendi a fazer a renda de bilro quando tinha quatro anos. Depois cresci e fui trabalhar na fábrica de redes e depois nos armazém, consertando redes para as traineiras (barcos de pesca) – recorda.
 
       Maria da Conceição Simões, 65 anos de idade e 55 dedicados a renda de bilro, resume o que é ser uma rendeira de Peniche.
 
- O dia em que deixar de fazer renda por não enxergar mais ou por outro motivo qualquer acho que minha vida também acaba. A renda de bilro é meu passatempo favorito e se não conseguir fazer mais seria um grande desgosto – disse a rendeira emocionada.

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