No
dia 25 de março de 1818, Dom João VI assinou o decreto que criava o primeiro
empreendimento pesqueiro do Brasil. A iniciativa pública injetou uma quantia
milionária para a compra de embarcações e o translado de pescadores
profissionais portugueses. O dinheiro foi liberado e os colonos trazidos de
Portugal, mas nenhum barco foi entregue. O empreendimento pesqueiro naufragou
antes mesmo que a primeira embarcação fosse lançada ao mar.
Agora
toda essa história está registrada no livro-reportagem “1818 — A história da
colônia criada por Dom João VI que foi alvo de disputa entre brasileiros e
portugueses no século XIX”, lançado pela editora Apollo. De autoria do
jornalista Rogério Pinheiro, a obra conta os bastidores desse esquema de
corrupção que enriqueceu um grupo político brasileiro e contou com a ajuda de
funcionários portugueses do alto escalão do governo de Dom João VI.
—
Na teoria, a colônia tinha tudo para ser um empreendimento de sucesso. O
litoral brasileiro se encontrava inexplorado e com grandes cardumes à espera
dos primeiros barcos. A colônia pesqueira prometia suprir o mercado interno de
pescado no Brasil, que naquela época estava nas mãos dos armadores portugueses.
Além de abastecer o mercado interno, o empreendimento pesqueiro também iria
gerar milhares de empregos e movimentar a economia brasileira — explica o
jornalista.
Segundo Rogério Pinheiro, entre 1818 e 1822,
ano da Independência do Brasil, o governo português investiu uma pequena
fortuna na colônia. O dinheiro deveria ser usado na compra de terras, casas e
no auxílio financeiro dos colonos até que os barcos ficassem prontos. Foi
disponibilizado um valor que daria para comprar uma frota de 20 barcos de
pesca.
—
O governo que injetou milhões na colônia foi incapaz de administrá-la. Sem
controle, caiu nas mãos de um grupo político, que montou um esquema de
corrupção. Os barcos até apareceram, mas não foram usados no empreendimento
pesqueiro e sim para os negócios de uma família tradicional catarinense. As
terras também tiveram o mesmo destino — disse Rogério Pinheiro.
A
Colônia Nova Ericeira foi extinta em 1824 e substituída pela vila de Porto
Belo. Dos cerca de 400 colonos que vieram da Ericeira, apenas 25 conseguiram
retornar a Portugal. Os que ficaram foram expulsos de suas terras e muitos
morreram na pobreza extrema. Outros conseguiram ainda arrumar emprego em barcos
de pesca na cidade do Rio Janeiro ou Santos, no litoral paulista. Já o grupo
político que desviou o dinheiro do empreendimento pesqueiro nunca foi
responsabilizado.
O livro está disponível
nas livrarias Catarinense e na Amazon.
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