terça-feira, 24 de agosto de 2021

Livro aborda esquema de corrupção que começou no reinado de Dom João VI


No dia 25 de março de 1818, Dom João VI assinou o decreto que criava o primeiro empreendimento pesqueiro do Brasil. A iniciativa pública injetou uma quantia milionária para a compra de embarcações e o translado de pescadores profissionais portugueses. O dinheiro foi liberado e os colonos trazidos de Portugal, mas nenhum barco foi entregue. O empreendimento pesqueiro naufragou antes mesmo que a primeira embarcação fosse lançada ao mar.  

Agora toda essa história está registrada no livro-reportagem “1818 — A história da colônia criada por Dom João VI que foi alvo de disputa entre brasileiros e portugueses no século XIX”, lançado pela editora Apollo. De autoria do jornalista Rogério Pinheiro, a obra conta os bastidores desse esquema de corrupção que enriqueceu um grupo político brasileiro e contou com a ajuda de funcionários portugueses do alto escalão do governo de Dom João VI.

— Na teoria, a colônia tinha tudo para ser um empreendimento de sucesso. O litoral brasileiro se encontrava inexplorado e com grandes cardumes à espera dos primeiros barcos. A colônia pesqueira prometia suprir o mercado interno de pescado no Brasil, que naquela época estava nas mãos dos armadores portugueses. Além de abastecer o mercado interno, o empreendimento pesqueiro também iria gerar milhares de empregos e movimentar a economia brasileira — explica o jornalista.

 Segundo Rogério Pinheiro, entre 1818 e 1822, ano da Independência do Brasil, o governo português investiu uma pequena fortuna na colônia. O dinheiro deveria ser usado na compra de terras, casas e no auxílio financeiro dos colonos até que os barcos ficassem prontos. Foi disponibilizado um valor que daria para comprar uma frota de 20 barcos de pesca.

— O governo que injetou milhões na colônia foi incapaz de administrá-la. Sem controle, caiu nas mãos de um grupo político, que montou um esquema de corrupção. Os barcos até apareceram, mas não foram usados no empreendimento pesqueiro e sim para os negócios de uma família tradicional catarinense. As terras também tiveram o mesmo destino — disse Rogério Pinheiro.

A Colônia Nova Ericeira foi extinta em 1824 e substituída pela vila de Porto Belo. Dos cerca de 400 colonos que vieram da Ericeira, apenas 25 conseguiram retornar a Portugal. Os que ficaram foram expulsos de suas terras e muitos morreram na pobreza extrema. Outros conseguiram ainda arrumar emprego em barcos de pesca na cidade do Rio Janeiro ou Santos, no litoral paulista. Já o grupo político que desviou o dinheiro do empreendimento pesqueiro nunca foi responsabilizado.

O livro está disponível nas livrarias Catarinense e na Amazon.

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