segunda-feira, 30 de agosto de 2021

O exemplar raro de “Os Lusíadas” que circulou por Florianópolis

   Quando partiu para o exílio, no dia 17 de novembro de 1889, Dom Pedro II pediu apenas que trouxessem um exemplar de “Os Lusíadas”. O livro, que pertenceu ao próprio Luís de Camões, foi entregue ao imperador pelo senador catarinense José da Silva Mafra. O político presenteou Pedro II depois de uma visita oficial a Desterro (antigo nome de Florianópolis) em 1845. 

   Mas a história por trás do livro raro de Camões é mais antiga e começou em Portugal durante a guerra travada pelo pai de Pedro II, Dom Pedro I e seu tio, Dom Miguel. Antes de passar pelas mãos do senador Mafra e do próprio Dom Pedro II, o livro pertencia a José de São Boaventura Cardoso, um frei português que vivia em Lisboa.

   Não se sabe como o religioso conseguiu a obra rara, mas ele precisou fugir de Portugal depois da derrota de Dom Miguel na Guerra Civil Portuguesa (1832/1834). Com a suspensão das ordens religiosas em Portugal e também por defender o lado perdedor, frei Cardoso viajou para o Brasil e levou consigo o livro.

   O religioso chegou em Desterro em 1935 e manteve em segredo a obra rara. Por 10 anos, o livro impresso em 1572 e que continha a assinatura de Luís de Camões, circulou pela cidade. Com a visita de Dom Pedro II, frei Cardoso pediu ajuda do senador José da Silva Mafra para presentear o imperador com o livro.

   A epopeia de “Os Lusíadas” no Brasil faz parte do livro “1818 — A história da colônia criada por Dom João VI que foi alvo de disputa entre brasileiros e portugueses no século XIX”, de autoria do jornalista Rogério Pinheiro, que está disponível nas livrarias Catarinense e no site da Amazon.

Pesquisa

   Para produzir o livro-reportagem foram analisados mais de 10 mil documentos, entre registros paroquiais, periódicos, artigos e livros. Em Portugal, foram realizadas pesquisas in loco no Arquivo da Torre do Tombo em Lisboa, no Arquivo Público Dom Pedro V em Mafra e na Santa Casa de Misericórdia da Ericeira. No Brasil, as pesquisas foram centradas nos arquivos públicos do Estado de Santa Catarina, Municipal de Florianópolis e Municipal de Itajaí, além do acervo digital da Biblioteca Nacional e da Hemeroteca Catarinense.

O autor

   Jornalista formado pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Rogério Pinheiro é paulista da cidade de Guarujá (SP), mas reside há mais de 20 anos em Navegantes (SC). Já trabalhou em jornais e rádios do litoral norte catarinense. É autor do livro “A Nova Ericeira” e dos documentários “Ericeira: um mar de história” e “Navegantes”. Trabalha atualmente como produtor cultural, pesquisador e editor independente. 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Livro aborda esquema de corrupção que começou no reinado de Dom João VI


No dia 25 de março de 1818, Dom João VI assinou o decreto que criava o primeiro empreendimento pesqueiro do Brasil. A iniciativa pública injetou uma quantia milionária para a compra de embarcações e o translado de pescadores profissionais portugueses. O dinheiro foi liberado e os colonos trazidos de Portugal, mas nenhum barco foi entregue. O empreendimento pesqueiro naufragou antes mesmo que a primeira embarcação fosse lançada ao mar.  

Agora toda essa história está registrada no livro-reportagem “1818 — A história da colônia criada por Dom João VI que foi alvo de disputa entre brasileiros e portugueses no século XIX”, lançado pela editora Apollo. De autoria do jornalista Rogério Pinheiro, a obra conta os bastidores desse esquema de corrupção que enriqueceu um grupo político brasileiro e contou com a ajuda de funcionários portugueses do alto escalão do governo de Dom João VI.

— Na teoria, a colônia tinha tudo para ser um empreendimento de sucesso. O litoral brasileiro se encontrava inexplorado e com grandes cardumes à espera dos primeiros barcos. A colônia pesqueira prometia suprir o mercado interno de pescado no Brasil, que naquela época estava nas mãos dos armadores portugueses. Além de abastecer o mercado interno, o empreendimento pesqueiro também iria gerar milhares de empregos e movimentar a economia brasileira — explica o jornalista.

 Segundo Rogério Pinheiro, entre 1818 e 1822, ano da Independência do Brasil, o governo português investiu uma pequena fortuna na colônia. O dinheiro deveria ser usado na compra de terras, casas e no auxílio financeiro dos colonos até que os barcos ficassem prontos. Foi disponibilizado um valor que daria para comprar uma frota de 20 barcos de pesca.

— O governo que injetou milhões na colônia foi incapaz de administrá-la. Sem controle, caiu nas mãos de um grupo político, que montou um esquema de corrupção. Os barcos até apareceram, mas não foram usados no empreendimento pesqueiro e sim para os negócios de uma família tradicional catarinense. As terras também tiveram o mesmo destino — disse Rogério Pinheiro.

A Colônia Nova Ericeira foi extinta em 1824 e substituída pela vila de Porto Belo. Dos cerca de 400 colonos que vieram da Ericeira, apenas 25 conseguiram retornar a Portugal. Os que ficaram foram expulsos de suas terras e muitos morreram na pobreza extrema. Outros conseguiram ainda arrumar emprego em barcos de pesca na cidade do Rio Janeiro ou Santos, no litoral paulista. Já o grupo político que desviou o dinheiro do empreendimento pesqueiro nunca foi responsabilizado.

O livro está disponível nas livrarias Catarinense e na Amazon.