Até
1818, o litoral centro-norte catarinense estava praticamente desabitado. Tudo
começou a mudar com a criação de uma colônia pesqueira na Enseada das Garoupas.
A iniciativa atraiu portugueses da Ericeira (uma vila portuguesa próxima a
Lisboa) e moradores de Santo Antônio de Lisboa (Florianópolis). O
empreendimento despertou também a atenção de um grupo político, que aproveitou
da falta de fiscalização para desviar o dinheiro destinado para construção dos
barcos de pesca.
Os
bastidores da criação Colônia Nova Ericeira é o tema do livro-reportagem “1818
— A história da colônia criada por Dom João VI que foi alvo de disputa entre
brasileiros e portugueses no século XIX”, de autoria do jornalista Rogério
Pinheiro. A obra será lançada no dia 26 de novembro, às 19h30, na Livraria
Catarinense do Itajaí Shopping.
A
Colônia Nova Ericeira foi fundada no dia 25 de março de 1818 com o propósito de
ser o primeiro empreendimento pesqueiro do Brasil. A região estratégica, preocupava
o governo português pela falta de moradores e por ter no seu calcanhar, os
espanhóis, que invadiram a Ilha de Santa Catarina em 1777.
O empreendimento pesqueiro foi o maior investimento
público em Santa Catarina no século XIX. O governo português injetou mais de 500
milhões de réis (uma fortuna na época) para a compra de terras, construção de
casas, barcos para pesca em alto-mar, ajuda de custo para manutenção das famílias
e do aparato administrativo da Nova Ericeira.
Corrupção
Na
teoria, a colônia tinha tudo para dar certo. O litoral do Sul do Brasil (incluía
na época também o Uruguai) praticamente se encontrava inexplorado, com grandes
cardumes à espera dos primeiros barcos de pesca e com um mercado consumidor em
expansão. Havia terras para assentar os colonos e dinheiro, muito dinheiro para
fazer o negócio funcionar.
Na prática, o que se viu mais tarde foi um show de
horrores. O mesmo governo que injetou milhões na Nova Ericeira foi incapaz de
fiscalizar a colônia. Sem controle, o empreendimento pesqueiro caiu nas mãos de
um grupo político formado por brasileiros e portugueses. Juntos formaram um
sofisticado esquema de corrupção, que fez escola em Santa Catarina.
Com
o fim da colônia em 1824, o grupo político que lapidou os recursos destinados à
compra de terras e barcos de pesca, fez de tudo para destruir provas e colocar
a culpa nos pescadores. Os colonos da Nova Ericeira ficaram conhecidos na história
como vagabundos, preguiçosos, que vieram de Portugal para ganhar dinheiro sem
trabalhar. E, na verdade, foram vítimas do grupo político.
Curiosidades
O
livro traz muitas curiosidades envolvendo personalidades históricas brasileiras,
por exemplo, a participação de José Bonifácio de Andrada e Silva no processo de
criação da Nova Ericeira. O patriarca da Independência do Brasil conhecia o litoral
catarinense, a Ericeira e chegou a escrever um estudo pesqueiro em 1812.
Outra
curiosidade está relacionada com “Os Lusíadas”. Em 1845, um senador catarinense
presenteou o imperador Dom Pedro II com o livro, que pertenceu ao próprio Luís
de Camões. A obra rara está envolta em uma grande polêmica e quase gerou uma
crise diplomática entre o Brasil e Portugal na década de 1970.
Pesquisa
Para
produzir o livro-reportagem foram analisados mais de 10 mil documentos, entre
registros paroquiais, periódicos, artigos e livros. Em Portugal, foram
realizadas pesquisas in loco no Arquivo da Torre do Tombo em Lisboa, no Arquivo
Público Dom Pedro V em Mafra e da Santa Casa de Misericórdia da Ericeira. No
Brasil, as pesquisas foram centradas nos arquivos públicos do Estado de Santa
Catarina, Municipal de Florianópolis e Municipal de Itajaí, além do acervo
digital da Biblioteca Nacional e da Hemeroteca Catarinense.
O
autor
Jornalista
formado pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Rogério Pinheiro é
paulista da cidade de Guarujá (SP), mas reside há mais de 20 anos em Navegantes
(SC). Já trabalhou em jornais e rádios do litoral norte catarinense. É autor do
livro “A Nova Ericeira” e dos documentários “Ericeira: um mar de história” e
“Navegantes”. Trabalha atualmente como produtor cultural, pesquisador e editor
independente.